FELICIDADE

 

São seis horas da manhã.

Da varanda de minha casa

Olho para as bandas do Oriente,

Onde as nuvens, tingindo-se de púrpura,

Anunciam o despertar do Sol.

O silêncio que reina à volta

É tão-somente quebrado

Pelo trinar alegre dos pássaros

Que, com algazarra, saem dos seus ninhos,

Em busca de alimento para si e seus filhotes.

As roseiras do jardim

Têm seus galhos vergados

Pelo peso das perfumadas rosas que sustentam

E o orvalho que as cobre

Mais parece pequenos diamantes

Que à noite foram ali depositados

Por fadas e duendes.

Caminho descalça pelo gramado

Úmido pelo sereno da madrugada

E, apesar da maravilha que contemplo,

Renovado milagre da Mãe-Natureza,

Devagar, algumas lágrimas brotam dos meus olhos

E uma tristeza infinita

Toma conta de minh’alma.

Elevo então meu pensamento ao Criador,

Indagando: “ - Senhor, o que a mim me falta?

Por que choro?

Não tenho tudo que preciso

Para considerar-me feliz?”

Pareceu-me ouvir a resposta:

“ - Minha filha, a que chamas felicidade?

Não será somente no Sol que te aquece,

Nem no canto dos pássaros,

Ou na beleza e no perfume das flores,

Que a encontrarás.

Olha para dentro de si,

Procura bem, e poderás descobrir

Que ela está bem aí,

Guardada no sacrário do seu íntimo”.

Então medito: Felicidade,

Sentimento efêmero.

Surge de repente

E no momento seguinte

Já foi embora.

 

20.01.2001